O desejo de ser mãe nasce no coração de grande parte das mulheres ainda na infância. Depois de deixar as bonecas de lado e enfrentar a vida adulta, muitas se perguntam qual será o momento certo para ter um filho. Neste contexto, as pressões culturais, sociais e familiares podem influenciar a decisão mais do que as questões biológicas.
Para a designer de interiores Camila Dobins Brandalize Mangini, de 30 anos a pressão da família começou quando começaram a achar que ela e o marido, Leandro Magini, de 35, já estavam há muito tempo casados e sem nenhum filho. “Casamos bem jovens, e quando completamos sete anos de casados, decidimos parar o anticoncepcional para ver se engravidávamos. Mas sem expectativas maiores”, conta. “Achamos até que demoraria, mas em dois meses descobrimos a gestação”. Hoje o casal tem o Miguel, de 3 anos, e a Bella com 8 meses.
A designer afirma que foi uma escolha dos dois e a principal motivação era a vontade de experimentar algo diferente e transformador. “Não imaginava o quão grandioso seria esse momento. Acho que nunca estamos completamente preparadas para a maternidade, porque ela nos desafia a cada momento”, analisa. “Me tornei mãe quando tinha que ser mesmo e foi incrível. Sempre ouvi que filho, só tendo para saber. E é assim mesmo. É deixar de ser eu para ser eles, nós. Maternidade é doação, é renúncia, é se reencontrar no mundo”, reflete.
Flávia Ramos Duarte, psicóloga do Complexo Hospitalar de Clínicas da UFPR, observa que quando a mulher tem o desejo de ser mãe, ela saberá qual o seu melhor momento, independente do que a família ou o círculo social do casal acha. A hora certa depende de vários fatores como fertilidade, saúde física e emocional, e estabilidade social da família em questão, segundo ela. “O melhor momento é quando a mulher está saudável, em um relacionamento estável, no qual ambos estão dispostos a abrir mão do seu tempo para cuidar de uma criança, não só financeiramente, mas emocionalmente”, salienta.
Planejar é bom, mas o momento perfeito não existe
A sociedade está em constante transformação e suas mudanças também afetam a maternidade. A médica especialista em ginecologia e obstetrícia Daniele Reimche Ott Peters ressalta que antigamente o ideal de vida de uma mulher era casar e ter filhos, não havia grandes ambições profissionais e o homem era o provedor da família. Hoje, as mulheres investem nos estudos, na carreira profissional, os casamentos são tardios, seus salários fazem parte da renda familiar e a decisão de ter filhos é adiada. “Adiar a gravidez pensando que chegará o momento em que a vida estará mais organizada e tranquila, com condições ideais para acolher um filho, pode ser uma ilusão. É provável que o tempo passe e esse momento perfeito nunca chegue”, alerta. A psicóloga Flávia concorda e reitera que planejar é sempre bom, porque um filho muda toda a organização financeira e emocional do casal. Porém, não se pode ficar preso ao momento ideal, pois sempre haverá metas para alcançar na carreira pessoal de ambos.
Relógio biológico realmente existe?
De acordo com a obstetra Daniele, “relógio biológico” é uma expressão que as pessoas usam para descrever uma queda na fertilidade associada ao aumento da idade. O mito mais comum em relação a esse termo é o de que o desejo de ter filhos começa a se manifestar à medida que a mulher envelhece. “Não existe um impulso biológico que promova essa necessidade de ser mãe e não há mudanças hormonais que possam estimular o aumento de um possível desejo pela maternidade”, explica. Do ponto de vista biológico, o ideal seria engravidar a partir dos 20 anos, quando a taxa de fertilidade começa a reduzir lentamente, até os 35 anos, idade em que as possibilidades de concepção reduzem drasticamente. Além do número de óvulos diminuir, a qualidade é prejudicada. Isso reduz as chances de engravidar, aumenta a incidência de complicações durante a gestação, de abortos e de doenças genéticas.
Fonte(s): Carla Bastos Dias, especial para o Sempre Família