Por quê? “Vinde ver!” (Jo 1,46-50); pois, há algo muito maior à conhecer, amados(as) jovens. “No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus caritas est, n.1). Que fazer? Observando o DOCAT, logo no primeiro capítulo percebe-se que o amor é apresentado como o grande plano de Deus, e emergem questões: “mas quem é Deus? O que significa Deus para o nosso agir? Pode fazer-se a experiência de Deus?” São Tomás de Aquino, grande pensador cristão da idade média, quando reflete acerca dos mandamentos bíblicos comenta que as pessoas precisam, ao menos, três coisas à salvação: “saber o que acreditar; saber o que esperar; saber o que fazer!”
O chronos ou cronos, isto é, o tempo marcado pelo relógio, inúmeras vezes nos condiciona à agilidade, à brevidade, à ansiedade, não? Particularmente, guardei o relógio de pulso há alguns bons anos, pois, mesmo indiretamente o “tic tac” causava-me certa inquietação. Neste 2020, a dimensão “tempo” está ganhando ressignificações, não é verdade? Chegamos, de esperança em esperança, no esperançar de setembro. Quiçá, perfumado mês, haja vista nos conduzir para ares de primavera, certo? Setembro das flores, aromas, cores; setembro amarelo de cuidado à vida, via prevenção do suicídio, por exemplo. Kairós, para além do chronos, é o tempo oportuno, relacionado ao transcendente, ao horizonte de sentido, à Deus.
John Henry Newman, cardeal e filósofo inglês, canonizado pelo Papa Francisco no dia 13 de outubro de 2019, dizia: “Eu fui chamado para fazer ou para ser alguma coisa que nenhum outro foi chamado a fazer ou a ser. Tenho um lugar no plano de Deus sobre a terra que mais ninguém tem. Quer seja rico ou pobre, desprezado ou louvado pelos homens, Deus me conhece e me chama pelo meu nome.” Há cronos e Kairós, é a verdade! Conheço uma canção que propõe sermos cidadãos do infinito e pela escuta da voz transcendente, Palavra de Deus, peregrinarmos caminhos de paz, a semear amor. “Certamente, descendemos dos nossos pais e somos seus filhos, mas também de Deus, que nos criou à sua imagem e nos chamou para sermos seus filhos. Por isso, na origem de todo ser humano não existe a sorte ou a causalidade, mas um projeto de amor de Deus” (Papa Bento XVI, homilia, 09 07 2006). E, bem proclama o salmo: “Como são numerosas as tuas obras, Senhor! Fizeste-as todas com sabedoria” (Sl 104,24).
Estimado(a) jovem, Deus evoca e reverbero sua voz: “és precioso(a) a meus olhos. Eu te amo” (Is 43,4). Se nunca escutaste ou leste-o, repito: “Eu te amo!” Ora, “dizer eu te amo significa dizer tu não deves morrer” (Gabriel Marcel) prematuramente e ou por sentir-te isolado(a), sozinho(a), angustiado(a), mesmo desesperado(a), talvez em um vazio existencial, sabe? És precioso(a)! “Escolhe, pois, a vida, para que vivas” (Dt 30,19). Talvez tenhas perguntas à fazer, não? Por onde começar, por exemplo? Se, por acaso, gostas de pizza, e eu gosto, pense quanto tempo aguardamos uma tele entrega, talvez entre 5 e 30 minutos, certo? Mas, quanto tempo ela precisou para tornar-se pizza? Quantas pessoas interagiram com os ingredientes em sua composição? Desde o plantio das sementes de trigo, o cultivo, a colheita, transporte, transformação do grão em farinha, chegar às mãos de pizzaioli(e) que compõem-na com diversos outros condimentos, tornando-a pizza. É preciso compreender o tempo a partir de outra ótica, não é? O Kairós, tempo oportuno, traduz-nos o caminhar a partir do pulsar cardíaco de Jesus Cristo, rosto humano de Deus, em nós.
À experiência cristã, setembro é especial, pois, conclama cada pessoa à Palavra de Deus. Neste 2020, o livro escolhido será o Deuteronômio, situado no primeiro (antigo) testamento e citado mais de 200 vezes nos escritos do segundo (novo) testamento. É oportuno dizer que o livro do Deuteronômio, como o conhecemos hoje, na bíblia sagrada, no cânon bíblico oficial, precisou IV séculos para ser compilado e revisado. E, assim como a pizza, é recheado de ingredientes, sabores, perfumes, cortes, retalhos e situações delicadas, como o forno que para cozer precisa aquecer à altas temperaturas. Todavia, é preciso atenção e zelo, pois, se não houver conhecimento, técnica e habilidade, o fogo brando poderá queimar tão aprazível alimento, entende?
O livro do Deuteronômio, sob uma leitura direta, apresenta trechos com características desumanizantes ao sugestionar, por exemplo, que a morte é justificável quando realizada em nome de Deus (Dt 13) ou ainda, expressar a possibilidade de escravizar e oprimir mulheres e crianças (Dt 21,10-21). Há também textos com teor humanitário, exortando atenção aos fracos e empobrecidos (Dt 24,19-21). Porque tantas contradições? Marcas do longo processo redacional em contextos diversos, com mãos e mentes diferentes, com intenções múltiplas. Faz-se necessário estudar, profundamente os elementos todos, evitando-se fundamentalismos, moralismos e outros ismos. O objetivo central, a saber, era auxiliar o povo a observar a lei de Deus e transpor situações que deturpassem seu caminhar. Daí, após longo período de discernimento, a essência: “eu te propus a vida ou a morte [...]. Escolhe, pois, a vida, para que vivas...” (Dt 30,19-20).
Concluo, estimada(o) jovem, exortando-te: Escolhe, pois, a Vida! O próprio Jesus enfrentou situações adversas e agruras em seu viver. Recordo que, revisitando citações deuteronomistas, por exemplo, Jesus vence as tentações demoníacas do deserto, os momentos áridos da vida. “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Dt 8,3; Mt 4,4). “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Dt 6,16; Mt 4,7). “Ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele prestarás culto” (Dt 6,13; Mt 4,10). E, mesmo tendo enfrentado a paixão, a cruz e a morte, “Christus Vivit” – “Ele Vive e te quer Vivo(a)!” (ChV, .1) Eu também quero que vivas, pois, “és precioso(a) a meus olhos. Eu te amo,” em Jesus Cristo!